Opinião

O uso do ChatGPT pelos profissionais de investigação é confiável?

Inteligências artificiais não são capazes de substituir completamente a expertise humana

14 de março de 2023

Por Paulo Rodrigo Barreto e Luara Stollmeier*

A internet revolucionou praticamente todas as esferas das nossas vidas e, com a crescente digitalização do mundo, enormes quantidades de dados digitais são geradas o tempo todo. Para lidar com tal profusão de dados, movemos um esforço contínuo de inovação tecnológica que atinge outros patamares com as inteligências artificiais.

Com tais avanços, um assunto em alta nos últimos meses é o ChatGPT, modelo de linguagem de Inteligência Artificial que tem a capacidade de processar grandes volumes de dados e gerar respostas coerentes a partir de perguntas ou comandos de texto, pretendendo imitar o comportamento humano de maneira natural e convincente.

Apenas para elucidar a magnitude de tal tecnologia, numa pesquisa pela questão “o que é vida?”, enquanto buscadores como o Google exibem 1.500.000.000 resultados em 0,49 segundos, com mais de 100 páginas de resultados, o ChatGPT traz uma narrativa consolidada.

Desconsiderando os possíveis efeitos de imprecisão e a necessidade de complementação ou crítica das informações, a vantagem dessa nova ferramenta sobre buscadores como o Google é justamente a capacidade de oferecer um resumo bem estruturado do tema, em vez de vários textos para ler.

O fato é que o ChatGPT e outras inteligências artificiais trazem avanços positivos para diversas profissões, como às que trabalham com investigações, principalmente em fontes abertas. O ponto em comum, inclusive, é o fato de todas essas IAs serem treinadas com uma variedade de fontes de dados, incluindo artigos de notícias, livros eletrônicos, sites e fóruns na internet, permitindo aos pesquisadores e jornalistas a coleta de informações de maneira mais ágil e estruturada.

Imagine que um jornalista deseja investigar uma empresa que está envolvida em um escândalo financeiro. Usando o ChatGPT, ele poderia fazer perguntas como “Quais são os nomes dos executivos envolvidos na fraude?” ou “Qual é o valor total do dinheiro desviado?”. O sistema seria capaz de vasculhar a internet em busca de informações relevantes e retornar respostas consideráveis.

Embora possamos dizer que o ChatGPT seja uma aplicação inicial de OSINT (Open Source Strategic Intelligence), estamos diante do início de uma era cuja ferramenta ajudará a consolidar informações disponibilizadas na web para orientar investigações.

Vale ressaltar que as ferramentas que utilizam Inteligência Artificial ainda não se alimentam de dados e informações geradas em tempo real, isso significa que todas essas tecnologias disponíveis no mercado atualmente possuem uma limitação temporal. No caso do ChatGPT, os bancos de dados que alimentaram o modelo foram coletados até 2021, portanto, as informações fornecidas em suas respostas provavelmente precisarão de complementação em fontes mais atualizadas.

Outro desafio para quem trabalha com investigação em fontes abertas é garantir que as informações coletadas e armazenadas sejam oriundas de fontes públicas, abertas e oficiais, para que não seja alegada nenhuma violação de direitos de quem está sendo investigado, e nem cometimento de qualquer crime. Por sua vez, ao tentar desvendar fontes das respostas que o ChatGPT traz, há uma tendência em fornecer informações erradas, incompletas ou imprecisas – e de origem indeterminada. Essas são red flags, ou bandeiras vermelhas, a serem consideradas.

Por fim, embora quem trabalhe com OSINT consulte informações disponibilizadas em fontes públicas e abertas, é sua capacidade analítica que fará o diferencial na ligação dos fatos e dos dados. Ferramentas, técnicas verificáveis de extração de dados, novas fontes, e, principalmente, soluções personalizadas para problemas complexos, serão habilidades que o ChatGPT ou outra IA não possuem, e dificilmente possuirão. Apesar de valiosas na busca e na coleta de informações, é importante lembrar que as inteligências artificiais não são capazes de substituir completamente a expertise humana.

*Paulo Rodrigo Barreto e Luara Stollmeier são consultores especializados em OSINT (Open Source Strategic Intelligence) na área de Inteligência Corporativa da Aliant, plataforma de soluções digitais para Governança, Riscos, Compliance, Cibersegurança, Privacidade e ESG.

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