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Em livro, juíza reflete sobre trabalho doméstico e desigualdades

Obra parte da análise de tragédia para compreender as estruturas sociais do país

10 de março de 2023

A partir do olhar transdisciplinar sobre a exploração do trabalho doméstico e seus desdobramentos, a juíza do trabalho Maria José Rigotti Borges escreveu o livro “Ouçam Mirtes, Mãe de Miguel: trabalho doméstico remunerado e desigualdades no Brasil”, pela editora Appris. A obra parte da análise de um acontecimento trágico para compreender as estruturas sociais de um país. Mirtes do título foi atravessada pela terrível tragédia da morte de seu filho, Miguel, de 5 anos, no apartamento de luxo em Recife em que trabalhava como doméstica, em plena pandemia. Miguel foi deixado sozinho no elevador pela patroa de Mirtes, resultando em sua morte, em 2 de junho de 2020.

Ouvindo a voz de uma mãe de quem foi roubada a vida do seu filho, assim como de outras vozes envolvidas na sua luta por Justiça, a autora elabora uma reflexão aprofundada sobre os meandros da divisão sexual do trabalho, do patriarcado, do racismo e da colonialidade no Brasil e revela as relações complexas entre uma ordem econômica e social desigual e a vida quotidiana das trabalhadoras domésticas, numa perspectiva interseccional.

A obra é fruto de pesquisa da dissertação da juíza, defendida no mestrado em Sociologia da Universidade de Coimbra, em Portugal. O lançamento em Brasília será no dia 15 de março, às 19h, em uma roda de conversa na Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 10a Região (SEPN Quadra 513, Lotes 2 e 3, Salas – 502 e 508).

“Como juíza do trabalho, me instigava o fato desta categoria ser tão invisibilizada e de se constituir numa complexidade que diz muito sobre a sociedade que somos. Estava iniciando a pesquisa sobre o trabalho doméstico, quando a tragédia ocorreu. Assisti às entrevistas da Mirtes e fiquei muito tocada. Me ocorreu, então, fazer um estudo de caso, olhando profundamente para o fato. Eu não queria realizar uma abordagem espetacularizada, em respeito também ao luto que a família ainda vive. Minha ideia era falar da desproteção trabalhista, da naturalidade com a qual se vê o trabalho doméstico como um não-trabalho. O trabalho doméstico remunerado no Brasil é um tema ainda bastante invisibilizado e demanda mais pesquisas. Pensar em publicar esta pesquisa como livro é um meio de tirar o véu dessas indiferenças e tornar acessíveis o conhecimento e as reflexões feitas”, salientou a autora.

 

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